Uma crise crônica

Sejam bem-vindos!

Além do trabalho, as crises também acontecem em nossa vida particular, diria que quase que diariamente. No texto de hoje quero compartilhar com você um relato pessoal, vivido durante esta semana, quando tive um problema mecânico em meu meio de transporte e tive que gerenciar uma “dor de cabeça” logo em uma terça pela manhã.

Boa leitura.

O dia começava ensolarado e como sempre, eu subia em cima da moto e pegava estrada para mais uma jornada de trabalho. Um pouco antes de dar partida, já notei que a correia estava mais folgada que normal. A solução para tal problema é bem simples, mas pelo fato se repetir algumas vezes durante as últimas semanas, tudo indicava que o kit de relação estava chegando no fim de sua vida útil (pena que eu ainda não sabia disso).

Quando estou fazendo a curva no meio de uma rótula pronto para entrar e abastecer no posto, um susto! Uma parada brusca e repentina. A moto apagou e senti um tranco no pneu. Tive que usar a perna esquerda para apoiar o peso do meu corpo e o da moto bem no meio da curva. A cena foi ótima! Passavam mais motos, carros, ônibus e eu não conseguia empurrar a magrela pra calçada. A corrente prendeu entre uns tantos parafusos e eu não conseguia sair do lugar, bem no meio da avenida.

Felizmente, o causo foi em frente a uma madeireira onde um homem, mais experiente, saía do pátio em minha direção de forma sorridente. Já trouxe um parceiro com ele e juntos, levamos o bichinho de cerca de 120 kg até a calçada. Magicamente, uma maleta com umas mil e poucas ferramentas brotava nos meus pés e quando vi, ele já tinha tirado a roda, a correia, os parafusos e até uma barra de ferro que juntava tudo isso e que eu nem sabia que existia.

Não queria incomodar os rapazes, muito menos que se sujassem, mas precisava de ajuda. O abençoado mecânico deve estar com as mãos pretas de graxa até agora. Fazendo força daqui e dali, levanta, solta, aperta o freio da frente, passa pro ponto morto, parafusa e desparafusa, a moto estava inteira de novo e meu dia de trabalho estava salvo.

Não tinha palavras para agradecer, nem dinheiro para compensar. No posto do outro lado da rua, eu fui buscar uma coquinha bem gelada e entreguei aos dois homens que me ajudaram no meio da rua como forma de agradecimento. Apesar de não ser muito, achei que poderia ser bom pra eles, já que dali os dois iriam descarregar uma carreta de areão.

Destaquei que era pouco, mas era o que conseguia dar naquele momento, além de agradecer. O homem que seguia limpando as mão de graxa (deve estar até hoje), me disse: “Eu já fui muito ajudado nas estradas. Desde as correias que escaparam até gasolina que abasteceram pra mim. Por isso te ajudei”.

Podemos concluir dessa pequena crise algumas coisas. A primeira é que se eu estivesse mais atento aquela corrente desde os últimos dias, o pior, e que poderia ter sido muito pior, não teria acontecido, evitando uma crise crônica. Como sempre, a prevenção é um dos principais fatores para o melhor gerenciamento de uma crise. A segunda conclusão, é de que por mais que eu tivesse noção do que estava sendo feito na moto e saberia identificar se algo estivesse errado (eu ia ver se a moto tivesse com uma roda a menos né), não era eu a melhor pessoa para estar ali manuseando as ferramentas e encaixando os parafusos. Não saberia identificar de pronto as chaves nem teria a devida agilidade com elas.

Acredito que esse ponto é fundamental em um gestor de crise. Você deve estar por dentro e monitorando tudo ao redor, saber onde cada peça vai encaixar melhor e qual será o próximo passo, mas é normal que precise de ajuda, até porque um comitê de crise nunca será formado por um único profissional. As pessoas que estão trabalhando ao seu redor precisam de confiança e eles podem ser muito mais capazes de realizar algumas tarefas do que o próprio mandatário da corporação/marca.

Como um futuro gestor de crise, espero nunca mais deixar passar nenhum detalhe em minha moto, e também torço para que aquela tenha sido a melhor coca da história dos rapazes, que me ensinaram uma valiosa lição, não somente na questão crise, mas na vida.